Aspectos psicossociais da mulher no climatério

Como já mencionado, estudos de gênero têm demonstrado diferentes modos de construção da subjetividade feminina a partir da inserção social das mulheres em culturas patriarcais. Na nossa sociedade, o momento atual é caracterizado por transformações nas quais vocês, mulheres, têm atuado como protagonistas. Papéis sociais anteriormente restritos aos homens, como o de provedor financeiro, estão sendo cada vez mais exercidos por mulheres, que também passaram a ocupar espaços diversos no ambiente público.

Essas mudanças sociais estão influenciando o modo como as mulheres envelhecem, enfrentando as desvantagens acumuladas ao longo de uma vida marcada por discriminação e desigualdades estruturais. No Brasil, vivemos um processo de feminização da pobreza e da velhice. A população de mulheres negras e pardas, que totaliza 64 milhões, corresponde a aproximadamente 60% da população feminina. A subnotificação da variável cor na maioria dos sistemas de informação da saúde dificulta uma análise mais consistente sobre a saúde da mulher negra e parda no Brasil. Estas mulheres ainda enfrentam a dupla discriminação de sexo e cor na sociedade brasileira.

Nas famílias em que a mulher é a “referência” (chefe de família), seus ganhos são, em 90% dos casos, a única fonte de renda. Isso significa que, além de não haver uma renda complementar, cabe à mulher realizar todas as tarefas familiares com um salário geralmente inferior ao dos homens. A dificuldade de sobrevivência econômica, a participação no mercado de trabalho, as responsabilidades familiares e domésticas, somadas aos preconceitos culturais sobre o envelhecimento do corpo feminino, intensificam o sofrimento psíquico das mulheres mais velhas que buscam atendimento nos serviços públicos de saúde.

Por todos esses motivos, desenvolvemos uma plataforma de telemedicina voltada ao climatério e à menopausa, proporcionando às mulheres maior acesso a informações nesse contexto. Ao longo da vida, a mulher passa por diversas mudanças, como a menarca, a iniciação sexual, a gravidez e a menopausa. As alterações hormonais que marcam o fim do período reprodutivo exigem adaptações físicas, psicológicas e emocionais, e antigos conflitos podem emergir nessa fase.

O metabolismo como um todo sofre alterações, especialmente relacionadas ao sistema endócrino e à diminuição da atividade ovariana. Os órgãos genitais, assim como o resto do organismo, mostram gradualmente sinais de envelhecimento. Para algumas mulheres, a menopausa pode ser vivenciada como a paralisação do próprio fluxo vital. Se insatisfeitas e desmotivadas, podem questionar tudo o que fizeram, sentindo que a vida se desorganizou e tornou-se caótica, com uma “sensação de tragédia iminente.”

No passado, a condição de estar a serviço dos outros, ignorando e desvalorizando seus próprios desejos, levava as mulheres mais velhas a assumir fortemente o papel de cuidadoras (de netos, filhos, pais e parentes). Hoje, no entanto, o climatério tem sido, para muitas, um tempo de realização de sonhos adiados. Apesar das dificuldades socioeconômicas, muitas mulheres começam a se ocupar de si mesmas, saindo do lugar de resignação que lhes era imposto e buscando “ressignificar” suas vidas para construir o que está por vir.

O envelhecimento não é determinado apenas pela cronologia, pelo passar dos tempos ou pela condição social, mas também pelas histórias pessoais. As mudanças corporais previstas podem impactar a autoimagem feminina e potencializar um sofrimento psíquico, segundo a visão de cada sociedade sobre a mulher mais velha. Nas sociedades ocidentais, a história das mulheres é marcada pela história de seus corpos. A tríade da perfeição física “juventude, beleza e saúde” pode trazer consequências psicológicas no enfrentamento do processo de envelhecimento.