Climatério e o SUS

Hoje, as mulheres são a maioria da população brasileira e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Considerando a saúde numa visão ampliada, diversos aspectos da vida estão a ela relacionados, como a alimentação, o lazer, as condições de trabalho, a moradia, a educação/informação, a renda, as relações sociais e familiares, a autoimagem, a autoestima e o meio ambiente.

Devido a essa perspectiva, criamos a primeira plataforma de telemedicina voltada para o climatério e a menopausa. A saúde vai além do simples acesso aos serviços de saúde ou da ausência de doença. Outras variáveis relacionadas à discriminação e aos preconceitos também compõem o processo de saúde-doença, aumentando a vulnerabilidade frente a determinados agravos que estão mais relacionados com situações de discriminação do que aos fatores biológicos.

A equidade é um dos princípios do SUS e significa a garantia de acesso de qualquer pessoa, em igualdade de condições, aos diferentes níveis de complexidade do sistema, de acordo com suas necessidades. Esse princípio está relacionado com a justiça e a igualdade social, pretendendo romper as barreiras da discriminação e das desigualdades.

Uma das principais discriminações se refere às relações de gênero. Enquanto o sexo define as características biológicas de cada indivíduo, o gênero é uma construção social e histórica dos atributos e papéis da masculinidade e da feminilidade. O gênero delimita campos de atuação para cada sexo e dá suporte à elaboração de leis e suas formas de aplicação.

Na maioria das sociedades, as relações de gênero são desiguais, e é com base nisso que se distinguem os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho e na oferta de bens e serviços. Em função da organização social das relações de gênero, homens e mulheres estão expostos a padrões distintos de adoecimento, sofrimento e morte.

A discriminação por raça/cor e por etnia também é determinante para o adoecimento das pessoas. O racismo é uma doença social que repercute nas instituições, inclusive nos serviços de saúde. Apesar de ser crime no nosso país, o racismo é praticado de diversas formas, desde as mais sutis e disfarçadas até as violentamente explícitas. Ele se concretiza nos relacionamentos estabelecidos entre as pessoas. A dor e o sofrimento (que não têm visibilidade concreta) geram adoecimento e morte.

As mulheres negras têm menos chances de passar por consultas ginecológicas completas. A precariedade das condições de vida das mulheres negras leva-as a apresentar maiores taxas de doenças relacionadas à pobreza, como o câncer de colo de útero, cuja incidência é duas vezes maior do que entre as mulheres brancas. Além disso, a população negra está mais sujeita a anemia falciforme, hipertensão arterial e diabete mellitus. É também alta a ocorrência de depressão, estresse e alcoolismo neste grupo populacional, agravando ainda mais as questões do climatério e da menopausa.

Apesar destes e de outros dados, as políticas públicas têm historicamente ignorado a perspectiva étnico-racial, assim como a existência do racismo institucional na saúde. Por tudo isso, estamos disponibilizando uma ferramenta para criar uma equidade de informações para todos os tipos e classes de mulheres.